"Com o tempo aprendi a esquecer meus pesadelos. Já os meus sonhos... estes me acompanham mesmo acordada."

segunda-feira, 1 de julho de 2013

aqui dentro

Quando eu me revoltei com minha vida? Nunca...
Minhas revoltas sempre foram internas, silenciosas, suspiradas e engolidas. Passei por momentos muito complicados, apanhei de todas as pessoas por todos os lados, já sofri agressões físicas e verbais, nem assim me revoltei. Nem diante de tantos abusos eu gritei, nunca perguntei o porquê de nada.
Não perguntei o porquê do meu pai ter me abandonado (diversas vezes), não perguntei o porquê minha mãe escolheu me deixar (sempre) pra trás ou o porquê de ela ter aceitado o meu "não vou com você". Pode ser que eu dissesse "não" para que alguém me perguntasse "por que não?" e aí nascesse uma conversa sobre tudo que eu vinha vivendo, talvez fosse carência de cuidado, pois, por mais que existisse alguém cuidando de mim, sempre me senti completamente sozinha no mundo.
Na verdade, eu nunca me senti cuidada, eu mesma cuidava de mim e das minhas coisinhas. Eu que sempre tinha o cuidado de deixar meus lápis apontados, a agenda dentro da mochila, estudava sozinha, me virava sozinha para nunca ter uma nota vermelha e desapontar a vovó, afinal, ela não entendia nada das matérias escolares e não poderia me ajudar caso eu não desse conta do recado.
Lembro-me agora de quando estudava na Escola Estadual e fui muito mal em matemática;, em um sábado, todos os meus coleguinhas foram para excursão no clube da cidade, e eu pedi a professora para me deixar na diretoria fazendo outra prova de matemática, tinha estudado muito e não podia ficar com nota vermelha no boletim. Ela deixou, eu me recuperei e ninguém nunca soube que eu não fui à excursão da escola.
E é isso, sou adulta desde os meus 8 ou 9 anos. Nunca me permiti dar "piti", reclamar da minha vida ou demonstrar minha tristeza e fragilidade, pois vovó tinha mais o que fazer e mamãe tinha a família dela para cuidar, não tinha tempo para perder com minhas revoltas, tinha seus próprios problemas e o de suas filhas e marido para resolver.
Achava que eram coisas que eu deveria viver mesmo, aceitar mesmo, que era meu karma, minha luta.. sei lá..
Eu aceitei tudo que a vida foi me dando e encaixando todos os maus sentimentos de uma forma que eles coubessem em mim sem que fizessem barulho. Nunca fui de fazer barulho.
Também não fui uma criança abraçada, beijada, etc.. não sei o que é esse contato físico, esse carinho exteriorizado. Lá em casa ninguém foi assim.
Não me lembro de ter ouvido "eu te amo" quando criança, ou adolescente, aliás, eu nunca OUVI "eu te amo".. as únicas vezes que isso veio de minha mãe, minhas irmãs ou minha tia foram pela internet, por mensagens, porque pessoalmente mesmo eu nunca ouvi isso. Acho que também nunca falei para alguém.. sempre foram palavras escritas e não sonorizadas.
Nem para família, nem para ex namorados.. o "eu te amo" sempre foi impresso em um cartão de datas comemorativas.
Penso agora que por 23 anos fui, em resumo, distante, fria, dura, tolerante, paciente, conformada.
Acho que as pessoas que têm uma família bem estruturada, ou familiares bem próximos, presentes, onde o diálogo é corriqueiro, se sentem protegidas e, assim, vivem mais naturalmente.
Eu, por nunca ter me sentido protegida, segura, criei minha própria armadura, forte, impenetrável, algo que todo mundo sempre percebeu, mas nunca entendeu que não era algo meu. Essa minha maneira fria e distante de lidar com as pessoas não acredito que seja algo inerente a minha pessoa, mas sim uma blindagem artificial esculpida pelas minhas próprias "mãos".
Nesses 23 anos ninguém me conheceu de verdade, nem mesmo eu.. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário